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Saúde bucal na terceira idade: um pilar esquecido da saúde integral

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Você já percebeu que é comum os idosos visitarem o cardiologista, o geriatra, o endócrino, mas esquecem de ir ao dentista? A boca, ironicamente, é uma das partes mais negligenciadas da saúde — justamente por quem mais precisa de atenção.

E não se trata de vaidade. A saúde bucal é uma peça-chave da saúde geral, especialmente na terceira idade. Quando está comprometida, ela pode ser o ponto de partida para problemas sérios como infarto, AVC, diabetes descompensada, Alzheimer, pneumonia e até perda da autonomia.

O que acontece na boca com o passar dos anos

Com o envelhecimento, a produção de saliva diminui, as gengivas retraem e o osso que sustenta os dentes perde volume. Tudo isso facilita a proliferação de bactérias e dificulta a higiene bucal — especialmente em quem tem limitações motoras, usa prótese ou sofre com demências leves.

Esse cenário favorece infecções como:

• Periodontite crônica: infecção grave na gengiva que pode liberar bactérias na corrente sanguínea;

• Candidíase oral: infecção fúngica comum em idosos com baixa imunidade;

• Estomatite protética: provocada por próteses mal higienizadas;

• Cáries radiculares: que muitas vezes evoluem silenciosamente.

E o que ocorre quando essas infecções saem da boca?

A resposta é direta: elas afetam o corpo todo.

• A periodontite pode dobrar o risco de infarto e AVC, algo que muitos idosos nem imaginam;

• A diabetes tipo 2 se descontrola com a inflamação gengival crônica — e o inverso também acontece;

• A pneumonia aspirativa, comum em idosos acamados, frequentemente tem origem nas bactérias da boca;

• Há ainda evidências de que bactérias bucais estejam envolvidas na progressão do Alzheimer e na piora da artrite reumatoide.

Ou seja, a boca é uma porta de entrada para processos inflamatórios e infecciosos que, em um organismo já fragilizado, podem ter consequências graves.

Você já notou se seu familiar idoso tem dificuldades de mastigar ou mal hálito persistente? Esses podem ser sinais importantes!

A família como agente de prevenção

Neste cenário, filhos, netos e cuidadores têm um papel fundamental. São eles que muitas vezes percebem sinais de dor, dificuldade para mastigar, mau hálito persistente, perda de peso ou desânimo. E são eles também que podem (e devem) garantir que o idoso receba o mesmo cuidado com a boca que recebe com o coração, a pressão ou o açúcar no sangue.

A ida ao dentista precisa estar na rotina. Da mesma forma que levamos nossos pais e avós ao cardiologista ou ao endocrinologista, devemos levá-los também ao consultório odontológico — não só quando há dor, mas para prevenir que ela surja.

IMPLANTES, PRÓTESES E DIGNIDADE

Implantes dentários na terceira idade não é vaidade — são ferramentas de saúde. Sem dentes funcionais, o idoso mastiga mal, evita alimentos nutritivos, sobrecarrega o estômago e começa a perder massa muscular. Implantes dentários, mais do que estética, impactam a nutrição, a fala, o convívio social… e a autoestima.

Queremos viver mais, sim, mas com vitalidade, clareza mental, boa alimentação, liberdade para sorrir e conversar. A saúde bucal está no centro disso tudo. No consultório, vejo renascimentos todos os dias. São pacientes que voltam a comer sem dor, a rir com liberdade, a se olhar no espelho com orgulho.

Envelhecer com saúde começa com escuta, afeto e prevenção. Cuidar da boca de quem se ama é cuidar da saúde dele por inteiro! E talvez, sem perceber, salvaria a vida dele um pouco todos os dias!

DRA. ISABEL CARAZZO
Cirurgiã-dentista.
Especialista em Implantodontia, Especialista em Prótese Dentária e Habilitação em Sedação Consciente.

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