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Dra. Juliany Carvalho: rompendo barreiras e conquistando espaço na Ortopedia

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Juliany Aguirre Carvalho, de 34 anos, é natural de Santana do Livramento e atualmente se destaca como médica ortopedista e traumatologista, com especialidade em cirurgia do joelho e técnicas de videoartroscopia. Filha de Valdeci Soares Carvalho e Vania Dutra Aguirre, Juliany traz consigo uma história que reflete dedicação, superação e a busca incansável pela excelência em sua área.

Curiosamente, a medicina não foi seu sonho de infância. Durante o período escolar, ela sonhava em cursar Direito e tornar-se perita criminal. Foi apenas no cursinho pré-vestibular, ao perceber seu alto desempenho em simulados, que decidiu enfrentar o desafio de ingressar na Medicina — o curso mais concorrido. No entanto, os primeiros semestres na universidade foram marcados pela dúvida, pois ela ainda não se sentia conectada à profissão. Tudo mudou no terceiro semestre, quando começou a estagiar em um hospital e vivenciou a rotina do pronto-socorro.

“Eu não tinha certeza da minha escolha, mas quando surgiu a possibilidade de fazer um estágio, no terceiro semestre da faculdade, dentro do hospital, acompanhando os plantões da emergência, me encontrei no curso. Comecei o estágio na traumatologia no quarto semestre, virei bolsista do serviço e ali permaneci até a semana da formatura, totalizando 4 anos”, relata.

Ali, descobriu sua verdadeira paixão pela ortopedia e traumatologia, escolhendo essa área como sua especialidade. Essa experiência não apenas consolidou sua decisão, mas também moldou os valores que ela carrega até hoje.

A formação e a primeira conquista histórica

Dra. Juliany concluiu sua residência no Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), um período que foi fundamental para seu desenvolvimento.

“Minha formação no serviço de Ortopedia do Universitário foi além de teórica e cirurgias. Ali fiz amigos que hoje chamo de sócios. Sempre fui muito respeitada pela minha capacidade técnica e minha determinação em aprender. Cresci não apenas como cirurgiã, mas como pessoa, vendo a realidade do serviço público de saúde, e criando valores que carrego comigo até hoje”, descreve a Dra. Juliany.

Um dos momentos mais marcantes de sua residência foi o último dia de formação, quando se tornou a primeira mulher formada pelo Serviço de Ortopedia e Traumatologia do HUSM. Essa conquista histórica representa sua força e determinação em abrir caminhos em um campo predominantemente masculino. Atualmente, integra o corpo clínico do COSM – Centro de Ortopedia de Santa Maria.

O fascínio pela cirurgia do joelho

A especialização em cirurgia do joelho, especialmente em técnicas como a videoartroscopia, é um campo desafiador, mas que traz recompensas únicas. Dra. Juliany é movida pela possibilidade de melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

“Proporcionar condições para retorno às atividades básicas de vida diária, o retorno ao esporte e trazer alívio da dor em determinados procedimentos, faz com que seja compensador todo o desafio técnico dos procedimentos. Ser uma mulher traumatologista e ortopedista já é um desafio, ser cirurgiã de joelho, dentro de uma subespecialidade predominantemente masculina, é uma vitória, e possuir o reconhecimento de duas sociedades é de extrema importância para valorização profissional”.

Em 2021, a Dra. Juliany alcançou um marco significativo em sua carreira ao ser a primeira colocada na prova para título de cirurgiã de joelho da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ). Esse reconhecimento não apenas destacou sua competência técnica, mas também reafirmou a presença feminina em uma subespecialidade tradicionalmente dominada por homens.

“E eu me orgulho muito, não apenas pelo meu desempenho, mas em especial, porque exaltei a figura feminina na ortopedia”.

Desafios e lições aprendidas

Um dos maiores desafios enfrentados por Dra. Juliany é conscientizar os pacientes sobre a importância de sua própria responsabilidade no tratamento.

“Eu tenho capacidade técnica, tenho profissionais que me auxiliam na reabilitação dos pacientes, como fisioterapeutas e educadores físicos, porém o paciente precisa assumir sua responsabilidade e adesão ao tratamento proposto. Fazer o paciente entender que não existe remédio milagroso e que grande parte das suas queixas são resolvidas com mudança de hábitos e estilo de vida saudável, é meu desafio diário no consultório”.

“Minha maior conquista profissional é conseguir individualizar cada paciente que me confia a sua história de vida. O tratamento e a abordagem precisam ser individualizados, e para isso o paciente precisa ser ouvido e compreendido”.

“Faço parte do corpo clínico do Hospital São Francisco de Assis e do Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo, onde realizo os procedimentos cirúrgicos. Em Santa Maria, existem vários colegas cirurgiões de joelhos com visões e abordagens diferentes, oferecendo ao paciente além da expertise cirúrgica, uma relação médico paciente variada, o que proporciona uma individualidade, que julgo ser muito importante no mercado de trabalho, visto que o paciente pode decidir com qual profissional possui mais afinidade para realizar seu tratamento.”

Entre as cirurgias que realiza, destacam-se próteses de joelho, reconstruções ligamentares, como reconstrução do ligamento cruzado anterior, tratamentos de lesões meniscais e fraturas. Ela também prioriza tratamentos não cirúrgicos, como a reabilitação fisioterápica e a adoção de medidas preventivas.

“O melhor aliado para o tratamento não cirúrgico é sem dúvidas, o trabalho do fisioterapeuta. Priorizo muito o trabalho em conjunto com fisioterapeutas de qualidade que me auxiliam na reabilitação do paciente, sem a necessidade de intervenção cirúrgica.

A infiltração de medicação intra-articular, dentro do joelho, é uma alternativa para tratamento de dor e desgaste articular. Porém, não é a primeira escolha. Sempre inicio com reabilitação na fisioterapia, com orientações de mudanças de hábitos e de rotina, introdução de atividades físicas adequadas, para depois, se ainda assim for necessário, indico a infiltração como plano coadjuvante”.

“A recuperação do joelho depende de vários fatores, a cirurgia realizada, as limitações pré-operatórias que o paciente tinha, e em especial, a equipe multiprofissional que estará trabalhando junto. Mas por exemplo, um paciente que realiza uma prótese de joelho, ainda no hospital, já caminha, no segundo dia pós operatório já sobe e desce escadas. Pacientes submetidos a reconstruções ligamentares, iniciam estímulo muscular e treino de caminhada já no primeiro dia após a cirurgia”.

Quando questionada sobre os cuidados das articulações de idosos e atletas, Dra. Juliany explica:

“O mais importante, em ambos os grupos, é o treinamento físico. O reforço muscular adequado e supervisionado por um profissional. Nos idosos, oriento muito sobre evitar atividades de impacto como caminhadas longas, uso adequado de calçados e manter uma rotina de autocuidado que proporcione autonomia e liberdade para funções de vida diária. E para os atletas que realizam atividades esportivas como padel, futebol, beach tennis, ressalvo a importância do reforço muscular na academia como proteção para possíveis lesões. Atletas de alta performance, muitas vezes, acabam realizando treinos excessivos, sem um período adequado de descanso, ficando mais propensos a lesões. O fortalecimento muscular é essencial para a preservação articular.”

Equilíbrio entre vida profissional e pessoal

Embora a medicina exija dedicação intensa, Dra. Juliany encontra equilíbrio através do exercício físico e de momentos de lazer.

“Meu equilíbrio está naquilo que luto diariamente para acrescentar na vida das pessoas, que é a atividade física. Hoje eu treino 6x na semana e percebo a importância do exercício, não apenas para a saúde física, como para a saúde mental. Faço Crossfit há 4 anos e por incrível que pareça é meu momento de relaxar. Mas uma das minhas atividades favoritas é estar junto da minha família, principalmente da minha sobrinha. Além claro, de um bom espumante com as amigas”.

“Não tenho o hábito de ler, mas quando estava na faculdade tínhamos que ler um livro na disciplina de História da Medicina, e eu li o livro “O Século dos Cirurgiões” que sem dúvidas me fez refletir no quanto a medicina muda, evolui e que tudo que fazemos de melhor hoje, um dia também será dito como ultrapassado”.

Visões e objetivos

Para a Dra. Juliany, um dos pontos que percebe muito nos pacientes é a busca incessante do remédio milagroso que pode “curar os problemas”. Existem cada vez mais medicamentos comercializados e pacientes se automedicando na esperança de que seja o melhor tratamento.

“Mas o remédio é o coadjuvante nessa história, e o protagonista, e modificador da qualidade de vida, é o paciente orientado e motivado a encarar um verdadeiro tratamento de autocuidado e reabilitação física. Além disso, desrotular o paciente sobre o laudo do seu exame de imagem, exige muito cuidado, já que ele ‘aceita’ como verdade o que diz no papel e carrega o peso de um diagnóstico, sendo que muitas vezes são achados de exame que não justificam a causa da dor”.

Inspiração e futuro

Quando questionada sobre o que a inspira em sua profissão, Dra. Juliany destaca o impacto positivo que pode causar na vida dos pacientes. Para ela, o protagonismo no tratamento está nas mãos do paciente, enquanto o médico atua como um guia no processo de reabilitação e autocuidado.

Quanto aos planos futuros, ela pretende aprofundar seus estudos em medicina do esporte, com o objetivo de continuar promovendo saúde e qualidade de vida para seus pacientes. Dra. Juliany também reforça seu compromisso em inspirar outras mulheres a enfrentarem os desafios da medicina, mostrando que o conhecimento técnico e a dedicação são caminhos para a realização profissional.

“Por enquanto, o que mais busco é me manter como uma pessoa capaz de gerar saúde para os pacientes através do auxílio na mudança por um estilo de vida mais saudável”.

Dra. Juliany Carvalho é uma profissional que transcende as barreiras da medicina tradicional, trazendo humanidade, competência e inspiração para todos que têm o privilégio de conhecê-la. Sua história é um testemunho de que a determinação e o amor pela profissão podem transformar vidas.

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