Artigo de opinião

A caminhada de uma mãe e médica: superação e dedicação na fertilização in vitro e na reprodução humana

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Aos 38 anos e 9 meses, eu e meu marido decidimos que era hora de tentar engravidar. Sabíamos que poderia ser tarde, mas acreditamos que era o momento certo. Sempre senti minha ovulação e, no ciclo seguinte, tivemos relações no momento certo. Quando a menstruação atrasou dois dias, fiz um teste de laboratório que confirmou a gravidez. A alegria foi imensa. Preparei uma caixinha com sapatinhos e o teste positivo para dar a notícia ao meu marido. No entanto, seis dias depois, comecei a ter sangramentos. Uma ultrassonografia não detectou o saco gestacional, e o Beta HCG indicou uma gestação química. Foi um momento de tristeza, mas sabíamos que isso poderia acontecer.

Dois meses depois, em julho de 2018, com 39 anos, novamente tivemos um teste positivo. Desta vez, a felicidade foi maior, pois na ultrassonografia vimos um embrião com batimentos cardíacos. Mas, na semana seguinte, veio o choque: o coração do embrião parou. Fizemos uma aspiração intrauterina para análise genética e descobrimos que o embrião tinha uma alteração genética importante.

Depois dessas perdas, decidimos buscar a fertilização in vitro (FIV) com análise genética dos embriões. Em novembro de 2018, iniciamos o processo com meu amigo, Dr. Marcos, no Centro de Reprodução Humana do Hospital Bruno Born, em Lajeado. Meus exames indicaram um número reduzido de óvulos para minha idade. Ainda assim, comecei o tratamento, confiante e determinada a deixar de lado minha postura de médica e confiar no processo como paciente.

Iniciamos a estimulação ovariana em dezembro, com muitos desafios. No dia 9 de janeiro de 2019, realizamos a punção e obtivemos cinco óvulos, todos maduros. Dois deles foram fecundados e evoluíram para blastocistos. Os embriões foram biopsiados e encaminhados para análise genética. Dias depois, soube que ambos eram normais: um menino e uma menina. A alegria foi indescritível. Em relação às medicações, usei algumas que não necessitavam manter refrigeradas devido às viagens, e não tive efeitos colaterais. Todo processo com as medicações sempre foi muito tranquilo para mim.

Contudo, o maior desafio ainda estava por vir. Descobri que tinha adenomiose mista em grau acentuado, o que afetava o meu endométrio. Após várias tentativas de bloqueio da doença e preparos para a transferência dos embriões, nenhum resultado foi positivo. Em novembro de 2019, decidimos pausar o tratamento.

No início de 2020, meu corpo começou a dar sinais de recuperação. Com o endométrio apresentando melhoras, Dr. Marcos sugeriu uma transferência embrionária em ciclo natural. Em março, transferimos os dois embriões. No dia 23 de março, um teste de farmácia revelou a tão esperada gravidez, confirmada logo depois pelo exame de sangue.

Em abril, fiz a ultrassonografia e, para minha alegria, vimos um embrião saudável com batimentos cardíacos. O segundo embrião, infelizmente, não evoluiu. Assim, começamos o pré-natal com muito cuidado, especialmente devido à pandemia de COVID-19.

A gravidez foi tranquila, e no dia 20 de novembro de 2020, Antônio nasceu de cesariana, pesando 3.180 kg e medindo 51 cm. Rodeada de amigos médicos, mesmo sem a presença da família por conta da pandemia, o momento foi mágico.

Olho para trás com gratidão por cada fase dessa caminhada. Repetiria tudo, pois, como aprendi ao longo do caminho, “o resultado não está no seu controle. O que está no seu controle são seu empenho e as suas intenções” (Amit Sood). E, com dedicação, a hora certa sempre chega.

Dra. Sandra Weber
CRM 36634 – RQE 32639 – RQE 42068
Médica Ginecologista Especialista em
Reprodução Assistida. Médica Associada da AMCR. Médica integrante do centro de reprodução humana do Hospital Bruno Born.

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