Saúde e Bem-estar

Terceira Idade e Sexualidade

39views

É uma rima possível?

Ao falarmos de terceira idade, precisamos levar em consideração vários aspectos e olhares, pois há um marco temporal estabelecido que é preciso compreender. Vamos falar do velho ou do idoso? As expectativas recentes de prolongamento de vida nos levam a pensar que a qualidade também pode melhorar nessa proporção. Vivemos em uma sociedade em que envelhecer já não é mais uma exceção à regra.

A velhice não diz respeito a um fenômeno mensurável, uma vez que facilmente podemos perceber quando jovens são muito velhos e velhos são muito jovens em suas maneiras particulares de levarem a vida. Já ouvimos algumas vezes “minha mãe é uma velha de cabeça jovem” ou “esse jovem pensa como um velho”. Tais expressões sugerem que os conceitos de velho e novo estão intimamente ligados a corpo e mente, aparências e atitudes. Precisamos levar em consideração o fator cronológico, mas a cronologia não é mais, por si só, algo como fundamental para se definir o que se entende por velho. Idoso, sim – pois ser idoso nos diz de alguém com idade avançada, cronologicamente falando. 

A idade biológica não corresponde com exatidão ao tempo de vida. Por determinadas atividades laborais, exposição à determinado tipo de risco, desgaste por estresse físicos e emocionais, algumas pessoas envelhecem mais rápido que outras, além de ser necessário considerarmos que, em um mesmo corpo, alguns órgãos funcionam perfeitamente enquanto outros encontram-se adoecidos ou envelhecidos.

Mas e então: terceira idade e sexualidade, é uma rima possível? Para responder, precisamos inicialmente conceituar sexualidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “sexualidade é a integração de elementos somáticos, emocionais, intelectuais e sociais do ser sexual que, por meios que são positivamente enriquecedores, realçam as pessoas, a comunicação e o amor”. 

Em outras palavras, a sexualidade é uma energia que busca encontrar o amor, carinho, contato, afeto e intimidade, se integrando ao modo como vemos e sentimos, como o mundo se movimenta e como nos movemos nele, como tocamos e como somos tocados. Sexualidade é igual a intimidade e conexão. É a forma de comunicação íntima entre parceiros. 

Portanto, é diferente do ato sexual. É o recurso de ligação afetiva e emocional com o outro. Sexualidade é apego, é vínculo, é energia. É uma maneira de reforçar a intimidade e é um redutor de tensão ao lidar com o estresse da vida e das relações. Sendo assim, estar próximo intimamente e fisicamente gera conexão e proporciona menos solidão e vazio emocional. Isto inclui carinho, afetividade, prazer, desejo, autoconhecimento. A sexualidade fala da nossa personalidade, nossa maneira de ver e viver a vida. 

Não podemos ficar alheios ao fato de que o envelhecimento está atrelado a novos desafios, conflitos e sofrimentos. Muitas pessoas, bem antes de se enquadrarem na faixa etária do que chamamos de idoso, queixam-se das marcas do tempo sobre o corpo e sobre algumas de suas funções. Algumas se deprimem e ficam resistentes a qualquer mudança, outras reagem negando os fatos e comportando-se como adolescentes. E há as que adotam comportamentos muito adequados e cuidam de sua saúde física e mental. As pessoas deste grupo, tornam-se idosos com dignidade, adaptando-se ao que é possível, usufruindo as conquistas e enfrentando os desafios do presente, preparando-se ainda assim, para o futuro. Sabemos hoje, que o cérebro comanda a vida sexual das pessoas, muito mais do que os instintos e os órgãos sexuais. 

Na prática, o que observamos é que muitos idosos perdem qualquer espécie de censura quando chegam à terceira idade e mostram aquilo que a sociedade insiste em negar: eles têm desejo sexual, sim, podendo manter-se potentes, vigorosos e ativos – tanto homens quanto mulheres. Alterações hormonais são observadas tanto no masculino quanto no feminino e a relação com o espelho pode ser inibidora, afetando o desejo e a capacidade de alcançar prazer. 

Todavia, percebe-se o surgimento de recursos capazes de manter ou reintroduzir o estímulo, o desejo e as possibilidades de uma vida sexual ativa e gratificante. Nossa expectativa de vida não para de subir e, a maioria das pessoas se sentem longe da velhice na chamada segunda metade da vida e estes continuam ansiando por amor, afeto e intimidade. De repente, se veem sozinhos. Não é mais tão incomum sair em busca de um novo amor após uma separação ou a morte do parceiro. Ninguém gosta de ficar sozinho. 

Muitas pessoas solteiras com mais de 55 anos, não importa se divorciadas, separadas ou viúvas, continuam em boa forma, ativas e cheias de vitalidade. Ainda se sentem jovens e não querem ficar olhando a vida passar, sem planos para o futuro e – em hipótese alguma – sem amor. Portanto, terceira idade e sexualidade é uma rima possível, sim.

 

 

 

 

Heidi Maysa Paz Machado | CRP:07/26.306

Psicóloga, Terapeuta Cognitivo-comportamental

Terapeuta de Casal, Especialista em Sexualidade Humana

 

Deixar uma resposta