Novo reitor da UFSM fala com exclusividade sobre os novos desafios para a educação
O novo reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Luciano Schuch, concedeu uma entrevista exclusiva para a Interativa. Ele esteve presente na sede da revista e falou sobre as metas para a nova gestão, a volta do vestibular, aulas online e outros assuntos de extrema importância. O professor Schuch, como gosta de ser chamado, também salientou a importância da universidade no contexto da economia e do desenvolvimento regional.
Qual é a principal meta desta nova gestão?
Nossa principal meta de gestão é desburocratizar a UFSM, torná-la mais ágil e moderna, inclusive buscando digitalizar todos os processos para facilitar a vida do estudante. Os processos da UFSM já são todos digitais, pode-se retirar o certificado de qualquer lugar, e isso que torna tudo mais prático.
Queremos destacar também nossa missão nessa gestão com relação à sociedade. Vamos potencializar a extensão através das nossas empresas-júnior, que hoje somam mais de 30. Os nossos estudantes, durante a graduação, já possuem contato com o mercado de trabalho de todas as áreas desde o primeiro até o último semestre, muitos interagindo através de projetos dos próprios cursos e isso ajuda na formação de feedback do mercado e da cultura do empreendedorismo.
O que é preciso para transformar a Agittec em pró-reitoria? A UFSM tem autonomia para tanto?
Depende dos nossos conselhos, mas no geral temos a autonomia que é da própria universidade. Como temos uma pró-reitoria de pesquisa, também queremos uma de inovação e estamos com o projeto praticamente pronto para ser encaminhado ainda nesse mês para o Conselho Superior fazer a análise desta nova pró-reitoria.
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Existe a possibilidade de o vestibular e o PEIES voltarem ainda neste ano?
Na nossa história, vimos que o PEIES e o seriado sempre tiveram um papel de aproximação com a comunidade, por isso temos essa proposta de rediscutir o ingresso à universidade, de ter novamente uma interação junto com as escolas para discutir conteúdos, metodologias e formação continuada dos professores.
O nosso planejamento para esse retorno é que nesse primeiro semestre de 2022 façamos um debate interno com todas pró-reitorias e todos conselhos necessários pois não depende só de mim. Notamos que com o SISU, o aluno poderia entrar na universidade não tão conectado com o curso que escolheu, porém fazendo o PEIES geralmente ele vem focado no que já quer os três anos seguidos, o que vai se refletir em como ele vai fazer a graduação inteira, com propósito.
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A influência econômica da UFSM na nossa região é gigante. Como o senhor analisa esse fato?
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Além dos milhares de estudantes que em todos os anos chegam para morar aqui e estudar, pagam aluguel e também fazem essa roda da economia girar nem que seja gastando 50 reais, também temos um extenso contingente militar que entra nessa parcela.
Porém, além disso, queremos movimentar a economia da cidade através das pesquisas que são feitas na universidade, que elas possam melhorar a vida de toda a população que dela depende, fomentando desenvolvimento ainda mais agora quando tentamos voltar com a presencialidade das aulas, após dois anos difíceis.
Aproveitando a brecha, teremos aulas presenciais neste 2022?
Nosso planejamento era para o dia 21 de março o retorno de 100% dos alunos. Porém com o alta taxa de contágio da variante ômicron, discutimos internamente a possibilidade de atrasarmos uns 15 dias, e na primeira quinzena de abril mais ou menos voltar efetivamente, até para não ficar naquele dilema de “começa e cancela”.
E se os professores se negarem a voltar com as aulas?
Não existe isso. No momento em que o conselho determinar que as aulas voltarão a ser presenciais, os professores irão cumprir suas funções, até porque eles têm uma carga horária a cumprir.
Eles são trabalhadores normais, se não forem ao trabalho, o ponto será cortado. O que pode ocorrer é de algum eventualmente ter alguma comorbidade, enfim, que o impeça de voltar às aulas, aí vamos preservar a vida dessas pessoas.
Mas isso de o professor não querer dar aula não existe possibilidade e, caso haja, será aberto processo administrativo. Pode ocorrer também de determinado professor dar a aula, por motivo de saúde, de casa com os alunos presentes na universidade, pois temos tecnologia avançada para isso.
A sociedade precisa de mão de obra qualificada, conhecimento, soluções. Como efetivar parcerias da iniciativa privada com a universidade?
Esse talvez seja o maior desafio da UFSM e de todas as universidades do país, pois só se faz um país forte com um mercado de trabalho forte, uma indústria forte, que gere imposto, que atue para que dependamos cada vez menos da tecnologia de fora.
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Existem também empresas que têm problemas e nossos alunos ganham uma bolsa, isto é, pagamos alunos para aplicarem seu conhecimento na resolução dessas demandas. Em 2021, captamos 40 milhões de reais em parcerias com empresas privadas, o setor produtivo paga pelos “cérebros” dos nossos alunos. Os primeiros nanossatélites feitos em solo gaúcho na UFSM são um exemplo disso.
Qual a sua visão a respeito de pesquisas que eram inacabadas ou de alunos que ficavam prolongando seu uso da bolsa na UFSM?
É bom que se esclareça: a UFSM não financia pesquisa, quem está a cargo disso no país é a CAPES e o CNPq, mas é evidente que incentivamos algumas áreas.
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Temos o case de sucesso da UFMG para nos inspirar: lá todo grande pesquisador tem uma empresa, isto, é, ele está fazendo seus artigos, que também é importante, mas ao mesmo tempo gerando riqueza para o país. Isso é algo que não temos muito aqui, mas já está mudando, principalmente com a mudança da obrigatoriedade de o pesquisador ter que ter dedicação exclusiva.
Queremos que, cada vez mais cedo, nossos alunos conheçam as mazelas da sociedade e ajudem a resolvê-las.
O saber deve ser passado adiante e ao mesmo tempo deve-se ter em mente que o conhecimento gerado na UFSM é pago pelo contribuinte, é feito do esforço da sociedade pagadora de impostos. Qual sua visão sobre isso?
A universidade é pública, gratuita e de qualidade, mas tem gente que paga por ela e paga caro para mantê-la. Esse investimento que a nação brasileira faz em cada um de nós, servidores públicos, e nos estudantes que se formam lá deve ser valorizado.
E toda vez que esse estudante se forma, mas não atua na sua área de formação, ele vira um ônus para o país, em toda formatura eu falo que eles têm uma responsabilidade de retornar esse investimento que cada um dos brasileiros apostou, porque o fato é que eles precisam gerar emprego, renda, melhorar, enfim, a qualidade de vida.
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Não podemos deixar de mencionar o Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), como um exemplo de órgão público que presta serviço de excelência inclusive na pandemia à comunidade regional. Como o senhor enxerga isso?
Esse ponto para nós é muito caro, pois o HUSM é referência de alta e média complexidade para mais de 2 milhões de pessoas e presta um serviço de muita qualidade. Muitas vezes as pessoas chegam e ficam um pouco no nosso Pronto Atendimento em corredores, porém quando vão para os quartos têm um nível altíssimo de satisfação.
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Durante a pandemia, por exemplo, quando pouco se sabia sobre o vírus, nossos servidores estavam lá, muitos inclusive adoeceram, mas jamais desistiram, nunca deixaram de sair de suas casas quando nós estávamos nos protegendo e eles estavam na linha de frente, então temos que prestar essa homenagem a estes profissionais e a todos da área da saúde. Outra questão é a formação atuando junto com a assistência, deve-se ter esse equilíbrio, porque o HUSM é um hospital-escola, onde se deve fazer ensino e há mais de 150 residentes atuando nas mais diferentes áreas. Ele tem que ter esse papel de formação mas nunca esquecendo a assistência e nisso a EBSERH atua gerindo os recursos.